domingo, 3 de julho de 2011

Escola na Suécia quer abolir sexo das criança

Na Egalia, uma pré-escola sueca, não há meninos e meninas. Todas crianças são chamadas do mesmo jeito, sem que haja referência ao sexo. Em português é difícil reproduzir o que a escola está fazendo, pois não temos substantivos e pronomes neutros. Mas seria como se, em inglês, em vez de usar “she” (ela) ou “he” (ele), os professores chamassem as crianças de “it” (o pronome neutro que é usado para coisas, não para pessoas). Em sueco, em vez de “han” ou “hon” (ela ou ele), usa-se “hen” – uma forma que não existe oficialmente na língua, mas foi adotada pela escola.

A Egalia abriu no ano passado na Suécia e educa crianças de 1 a 6 anos. Sua preocupação principal é não incutir desde cedo uma imagem restrita do que é ser menino ou menina. É evitar a ideia, por exemplo, de que meninos brincam com carrinhos e, meninas, com bonecas. Todos brincam juntos, com todos os brinquedos.

Para estimular a tolerância e a inclusão, em vez de contos de fadas – em que a princesa espera a salvação do príncipe encantado -, os professores leem livros que incluem histórias sobre casais de pessoas do mesmo sexo, pais solteiros e crianças adotadas.

“A sociedade espera que as meninas sejam mulherzinhas, boazinhas e bonitas, e que os meninos sejam homenzinhos, rudes e expansivos”, diz a professora Jenny Johnsson. “A Egalia dá às crianças a fantástica oportunidade de ser quem elas quiserem”.

As questões de gênero na Suécia e outros países nórdicos são levadas a sério. A diferença de tratamento entre homens e mulheres nesses países é a menor do mundo, segundo um levantamento do Fórum Econômico Mundial. E a ideia de que as crianças precisam crescer livres dos papéis tradicionalmente vinculados a cada sexo motivou um casal sueco a não revelar o gênero da criança para ninguém. Os pais batizaram o bebê de Pop (foto abaixo) e o vestem com vestidos e calças, dependendo do dia. O penteado também varia, para que não seja identificado nem com uma menina nem com um menino.


Mais recentemente, um casal canadense decidiu fazer o mesmo com o terceiro filho. O bebê foi batizado de Storm e só cinco pessoas sabem seu sexo. A mãe, Kathy Witterick, justificou a decisão: “Quando um bebê nasce, mesmo as pessoas mais próximas a você e a quem você mais ama perguntam logo de cara: ‘É menino ou menina?’ Se você realmente quer conhecer alguém, você não pergunta o que ela tem no meio das pernas.”

Eu dificilmente teria a mesma atitude desses pais, que decidiram radicalizar o ideal de igualdade suprimindo totalmente a ideia de gênero. Mas acho válida a iniciativa da escola de se esforçar para educar crianças livres de amarras, que possam brincar com mais liberdade e que se acostumem, desde cedo, a pensar que tanto meninos e meninas podem assumir os papéis que quiserem na sociedade.

É importante que os professores não passem adiante preconceitos para que todas as crianças possam desenvolver seus potenciais na área de que mais gostem, qualquer que seja. Quando a escola falha nessa tarefa, as pesquisas mostram que as meninas acabam fugindo das ciências exatas (afinal, elas seriam melhores com as palavras do que com os números, não é mesmo?). E os meninos acabam fugindo das ciências humanas (afinal, eles seriam melhores com os números do que com as palavras, não é verdade?). A empresária de Cingapura Norma Sit, que entrevistei recentemente, disse que as meninas costumam ir pior em matemática em classes mistas. Ao que parece, elas são levadas a acreditar que são piores do que os garotos nessa disciplina. Quando estão em salas só para garotas, costumam ir melhor.

Há quem critique o método de ensino da Egalia. Para algumas pessoas, suprimir a ideia de gênero dificulta a vida das crianças fora da escola – onde elas necessariamente têm contato com isso. Eles dizem que bastaria valorizar da mesma forma o feminino e o masculino que não haveria necessidade de tentar eliminar os sexos e até criar um novo pronome! É uma crítica válida.

Você colocaria seu filho numa escola como a Egalia? O que acha da ideia de tratar as crianças como crianças, em vez de meninos e meninas?

FONTE: Letícia Sorg é repórter especial de ÉPOCA em São Paulo.

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