A prática sexual de um adulto com uma criança aflora os piores sentimentos tanto nos envolvidos com o abuso sexual quanto naqueles que nunca passaram pela situação. Vergonha, culpa, repúdio, nojo são alguns deles.
“As estatísticas mostram que a maior parte dos agressores foi abusada na infância”. Dentre elas, está a pesquisa “A Violência Silenciosa do Incesto”, feita com homens pedófilos e não pedófilos, que demonstrou que 66% dos pedófilos foram abusados sexualmente. Entre os não pedófilos, esse percentual era de 4%, o que comprova que a violência sexual pode provocar a identificação com o abusador.
O fenômeno, observado por Freud, seria um processo inconsciente e impossível de dominar, que obriga o sujeito a reproduzir sequências (atos, ideias ou pensamentos) que, em sua origem, geraram sofrimento.
“O pedófilo é um homem com fixação nas etapas pré-genitais. Ele tem uma perversão. Não interessa ao pedófilo se a vagina da menina não comporta o seu pênis, o que interessa a ele são as preliminares, o sexo oral, os joguinhos. O pedófilo recusa a passagem do tempo, ele quer ficar naquele prazer da infância. Por isso, muitas vezes, ele se contenta em ver fotos, filmes, é uma relação incompleta”, diz.
Abuso envolve grande perversidade e pode ter efeitos dramáticos a longo prazo, como baixa autoestima, incapacidade de vivenciar o amor e passividade frente a novas agressões.
Os especialistas definem o que acontece a uma criança vítima de abuso sexual.
Mas para entender o fenômeno da pedofilia, é imprescindível investigar não só o perfil psíquico do abusador como também a fase psicológica da criança vítima da violência.
Até os 3 anos, a criança tem uma enorme curiosidade sexual. Brincar com o órgão genital, pedir para ver a cor da calcinha da mãe ou do coleguinha, tudo isso faz parte do desenvolvimento psicológico.
A partir dos 5 anos, as crianças entram na fase do complexo de Édipo e aí começam as fantasias românticas com o progenitor do sexo oposto.
No caso das meninas, a mãe se torna sua principal rival.
“O pedófilo se aproveita da curiosidade e da fragilidade da criança para abusar”, explica Cassandra França, doutora em psicologia clínica e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Apesar de desprazeroso, o ato é interpretado pela criança como um simples afeto.
O que se segue à cena do abuso é a afirmação do adulto de que nada aconteceu ou que aquele é um “segredinho” entre eles e, quase sempre, a ameaça de que, se contar, a criança será desmentida ou culpada pelo que aconteceu.
“A menina é surpreendida por algo que ela não precisava para resolver o complexo de Édipo e fica aprisionada na culpa. Na maioria das vezes, ela não conta para mãe justamente por estar ‘disputando’ o afeto do pai”, diz a professora. A consequência para o futuro dessa criança é o pior possível, pois é na primeira infância que elegemos os modelos de vida.
“O abuso será uma marca no ‘chassi do psiquismo’. Aquilo que estou sofrendo passivamente hoje vou vivenciar ativamente quando adulto”, diz. Além disso, a criança irá apresentar auto-estima baixíssima, incapacidade de vivenciar o amor – ela não acredita que pode ser amada pelo que é – e extrema passividade diante de agressões.
O abuso da criança é praticado no espaço privado, por alguém que ela conhece e confia e de forma recorrente”, compara. Uma pesquisa realizada pelo Pérola Byington em 2006 mostrou que 98% dos casos se repetiam. Mais de 60% dos abusos duraram mais de um ano e 10% deles ocorriam há cinco anos ou mais. Entre as adolescentes abusadas, 20% idealizavam o suicídio.
“A dinâmica do abuso envolve uma grande perversidade e tem efeitos devastadores irreparáveis”, diz. Para ele, a subnotificação de casos de abuso sexual – estimada em 80% – só deixará de existir quando educadores e profissionais da saúde estiverem treinados para perceber os sinais de violência. (ACB)
SINAIS E SINTOMAS DE QUE UMA CRIANÇA É VÍTIMA DE ABUSO SEXUAL
Físicos:
- Corrimento vaginal, hemorragia vaginal ou anal,
- Ardor ao urinar,
- Corrimento através da uretra (canal por onde sai a urina),
- Dor constante na vagina ou no ânus,
- Inflamação dos genitais, encoprese (estado de incontinência fecal, funcional e involuntária),
- Enurese (emissão involuntária ou inconsciente da urina),
- Distúrbios alimentares,
- Algumas crianças apenas apresentam queixas inespecíficas persistentes, como dor de cabeça, dores de barriga ou crises de asma.
- Perda de confiança nela própria, no agressor e nas pessoas do sexo do agressor, demonstra sentimentos de culpabilidade, baixa auto-estima e vergonha.
- Há uma mudança súbita no comportamento (agressividade)
- Dificuldade de aprendizagem,
- Dificuldade de concentração,
- Relutância na relação com os pares – isolamento,
- Masturbação excessiva ou de modo exibicionista,
- Atitudes e conversas sobre temas sexuais desadequados ao nível etário,
- Pesadelos,
- Insônia,
- Medo de estar sozinho ou não querer ficar sozinha com determinado adulto.
FONTES:
- http://educacaodeinfancia.com/sinais-e-sintomas-do-abuso-sexual/
- ILUSTRAÇÕES – JORNAL” O TEMPO”
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