quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

ANÁLISE PSICOPATOLÓGICA DE CHAPEUZINHO VERMELHO


Se
mpre achei Chapeuzinho Vermelho uma criança com sérios problemas na cabeça. Analise comigo: ela não sabe o próprio nome e se identifica fazendo alusão ao gorro ridículo de duende que usa o tempo todo. Além disso, apesar de grandinha, não revela sequer a mais elementar noção de perigo. Passeia solitária por uma floresta inóspita cantando uma musiquinha irritante e ainda para pra conversar com um lobo, dando-lhe a ficha com todas as informações de que ele precisa pra atacar a vovozinha. Cá entre nós, até o nosso ex-presidente desconfiaria que havia algo errado com o papo daquele lobo e diria admirado: “Companheira Xapelzinho, nunca na istoria deçe paíz teve tanta injenuidade na cabessa de uma peçoa umana”.

Chapeuzinho Vermelho também revela graves comprometimentos ou no campo da visão ou do discernimento básico. Notem que ela vê o lobo vestido de camisola na cama da vovozinha e é incapaz de perceber que aquilo é um disfarce dos mais grosseiros. Ela até nota alguns detalhes que não batem (“Por que essas orelhas tão grandes?”; “Por que esse nariz tão grande?”), mas não é capaz de juntar tudo e concluir que quem está na frente dela não é nem de longe a vovozinha que, aliás, já foi pro vinagre há muito tempo.
Decididamente, Chapeuzinho Vermelho precisava de ajuda. Talvez até fosse o caso de uma dessas internações compulsórias que o governo inventou pra fingir que está trabalhando contra o crack. Por isso, a história dela, a meu ver, tinha tudo pra dar errado e a coisa só não acabou em completa tragédia porque, felizmente, tinha um caçador zanzando perto da casa na hora em que a pobrezinha percebeu a encrenca e gritou de medo. O final feliz também foi possível porque a história não aconteceu no Brasil. Se tivesse sido aqui, Chapeuzinho Vermelho, a vovó e o caçador iriam todos pra cadeia pelo emprego de força excessiva em defesa própria. Afinal de contas, precisava matar o bichinho, vítima fatal do meio selvagem em que vivia?
Vamos agora falar sério. Essa história de Chapeuzinho Vermelho pode ser tão absurda quanto um sermão neopentecostal, mas muitos crentes se encaixam perfeitamente no perfil da criança boba sem noção de identidade, ingênua no trato com o perigo e incapaz de qualquer discernimento.

Observem os “evangélicos” de hoje. 

Quantos irmãos nossos têm uma visão clara da dignidade com que foram revestidos quando creram em Cristo (Ef 2.6)? Quantos estão cientes de sua posição de herdeiros de Deus (Gl 3.29), de gente santificada, lavada e justificada (1Co 6.11)? Quantos andam por aí sabendo que são cidadãos dos céus (Fp 3.20), comprados pelo sangue de Jesus, muito mais precioso que o ouro ou a prata (1Pe 1.18-19)? Poucos, creio eu. Pois se os crentes soubessem quem realmente são, ajustariam melhor sua vida à grandeza de sua dignidade (Ef 4.1) e não se igualariam à ralé da incredulidade nem mesmo no jeito de cortar o cabelo.
Pensem agora na falta de prudência de muitos de nossos irmãos na fé. Inúmeros deles andam saltitando e cantarolando no meio de florestas perigosas, aproximando-se de lobos fingidos e estabelecendo fortes laços com eles. São aqueles crentes que se assentam nas inúmeras rodas de escarnecedores que a gente vê por aí (Sl 1.1) e que têm como melhores amigos pessoas imorais, blasfemas e incrédulas (Pv 13.20). Alguns andam com beberrões, com mentirosos e com adúlteros (Tg 4.4) e ainda são capazes de criticar os irmãos da igreja, dizendo que não conseguem se entrosar com eles!
E quanto à falta de discernimento? Por desconhecerem a Palavra de Deus, muitos cristãos observam os dentes enormes de pregadores que ensinam doutrinas estranhas e, em vez de fugir (2Jo 1.9-11), ficam impressionados e boquiabertos (2Co 11.4), perguntando iludidos: “Por que nunca ouvi novidades tão grandes?” Um exército de Chapeuzinhos abobalhados enche as igrejas dos atuais lobos de boca imensa que pregam velhas heresias com roupagem nova — heresias que, uma vez acolhidas, causam sérios prejuízos espirituais, morais, sociais, emocionais e até físicos a quem lhes dá crédito (2Pe 3.16). Com efeito, o preço do desvio doutrinário é, na verdade, semelhante ao de um carro popular comprado em pequenas e inúmeras parcelas. Só depois de alguns anos a pessoa percebe quão caro aquele lixo lhe custou.
Sim, Chapeuzinho Vermelho era mesmo uma criança com sérios problemas, mas ela nem se compara a esses crentes de hoje que parecem ter perdido de vez o que eu chamaria de “inteligência cristã”. Onde vocês, Chapeuzinhos de Jesus, estão com a cabeça? Opa! Neste artigo é melhor terminar com uma pergunta contextualizada. Lá vai: Chapeuzinhos de Jesus, por que essas orelhas tão grandes?


Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

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