Uma síntese do Metodismo no Brasil de 1832 até 1885
Rev. Ronan Boechat de Amorim
1832
Em 1832 a Conferência Geral da Igreja Me-todista dos EUA decide estudar a possibilida-de de abrir trabalho missionário na América do Sul.
1835
Em 19 de agosto de 1835 desembarcava no Rio de Janeiro o Rev. Foutain E. Pitts, com a tarefa de reconhecimento e avaliação da aber-tura de frentes missionárias no Brasil, Uruguai e Argentina.
1836
Logo no início de 1836 o Rev. Pitts retorna aos EUA recomendando que se estabelecessem missões no Rio de Janeiro e Buenos Aires. Ele disse: “aquela gente tem o coração aberto para o Evangelho”. O relatório do Rev. Pitts causa grande impacto na Igreja Metodista dos EUA.
Em 29 de abril desse 1836 chega ao Rio de Janeiro, o Rev. Justin Spaulding para organizar o trabalho missionário.
Em junho de 1836 ele organiza a primeira Escola Dominical da Igreja Metodista no Brasil e a primeira Escola Dominical no Brasil. Tinha 30 alunos, entre os quais alguns brasileiros e o ensino era ministrado em português.
O Rev. Spaulding, no Rio, “iniciou seu tra-balho entre ingleses e americanos e em pouco tempo organizou uma congregação de 40 pessoas e uma Escola Dominical. Distribuiu entre o povo muitos exemplares das Escrituras Sagradas na língua por-tuguesa, fornecidos generosamente pela Sociedade Bíblica Americana. (...) Encontrou o povo bem dis-posto para seu trabalho”, conta-nos o livro Histó-ria do Metodismo, de Paul Eugene Buyers, pá-gina 409.
1837
Em 12 de novembro de 1937 chegaram novos missionários: Daniel P. Kidder e R.M. Murdy com suas respectivas esposas, Cynthia e Mrs Murdy. O trabalho era intenso. O povo brasileiro apreciava a pregação dos metodistas, mas havia muita oposição e hostilidade por parte dos padres. Estes diziam que o “protes-tantismo era o reino do Diabo”.
1840
Em 1940 morre Cynthia Harris Kidder, esposa do Rev. Kidder, vitimada pela febre amarela e é sepultada no Cemitério dos Ingle-ses, no Rio de Janeiro. Muito abalado e com um filho pequeno, Rev. Kidder retorna aos EUA. Em seu trabalho missionário de apenas três anos no Brasil o Rev. Kidder viajou bas-tante pelo país e mais tarde, nos EUA, escre-veu um livro contando e comentando sobre es-sas viagens. O Rev. Kidder tornou-se na Igreja-Mãe um grande líder, sobretudo na área do-cente da Igreja.
1841
O Rev. Justin Spaulding ficou no Brasil até o ano de 1841, quando voltou para os EUA a-companhado do Rev. Murdy e demais missio-nários. “Não sabemos com segurança quais foram os motivos da sua retirada e dos demais obreiros, mas sem dúvida o estado perturbado em que se a-chava a Igreja-Mãe, sobre a questão da escravidão, que a dividiu em 1844, foi a principal razão”, es-creve Paul E. Buyers.
1871
Em agosto de 1871 o Rev. Junius E. Newman, um imigrante que era pregador me-todista, depois de autorizado pela Igreja Epis-copal do Sul, organizou em Saltinho, perto de Santa Bárbara, SP, a primeira Igreja Metodista no Brasil, integrada por imigrantes norte-americanos. A Igreja também era conhecida como “Igreja do Campo” e reunia-se numa ca-sa de madeira.
O Rev. Newman escreve continuamente à Igreja-Mãe solicitando que o trabalho missio-nário no Brasil fosse retomado. Suas cartas sensibilizam a Igreja-Mãe.
1876
Em 2 de fevereiro de 1876 chegava ao Brasil o Rev. John James Ransom, oficialmente o 1º missionário metodista no Brasil enviado pela Igreja Metodista Episcopal do Sul dos EUA, que depois de algum tempo preparando-se, acabou por residir e desenvolver um trabalho missionário na cidade do Rio de Janeiro. O Rev. Newman fica como o Superintendente da Missão até 1879, quando Ransom assume essa função.
1877
Em 1877 falece Mary A. Newman, esposa do Rev. Newman e mãe de Annie e Mary.
1879
Em 1879 o Rev. Newman deixa Saltinho e vai para Piracicaba. Sem o Rev. Newman e su-as filhas a Igreja de Saltinho deixa de existir.
No natal de 1879 o Rev. Ransom casa-se com Annie, filha do Rev. Newman, indo morar e colaborar no trabalho missionário no Rio de Janeiro. Mas o casamento dura pouco, pois em meados de 1880 a jovem Annie morre.
O Rev. Ransom assume a Superintendência da Missão até 22 de dezembro de 1882.
1880
Em 1880, muito abatido pelo falecimento da esposa, o Rev. Ransom volta aos EUA para re-cuperar-se. Mas aproveita e prega em muitas Igrejas e Concílios, contanto suas experiências e desafiando a Igreja a investir mais em mis-sões no Brasil. Como resultado, traz consigo três novos obreiros.
1881
Em 16 de maio de 1881 chegam três novos missionários: o Rev. J. W. Koger e a esposa Frances S. Koger (que tinham um filhinho), Miss Marta Watts e o Rev. J. C. Kennedy, que vão trabalhar na cidade de Piracicaba, SP. O Rev. Koger foi logo designado missionário na cidade de Piracicaba e teve a ajuda de Miss Marta Watts que já no início de julho desse ano de 1881 organizava uma Escola Dominical, que reunia várias crianças nas manhãs de domin-go.
Em 2 de setembro de 1881, 4 meses depois de iniciado o trabalho, o Rev. Koger organiza-va a Igreja Metodista de Piracicaba com 9 membros. Era a terceira Igreja Metodista que surgia no Brasil. E 13 dias depois, Miss Watts abriu uma escola, que tinha uma única aluna. Por incrível que pareça essa foi a semente que mais tarde desabrocharia no Colégio Piracica-bano, que por sua vez, anos depois, viria a se transformar na UNIMEP, a primeira universi-dade metodista no Brasil.
No fim de 1881 o Rev. Kennedy, que esta-va em Piracicaba, vem para o Rio de Janeiro para ajudar o Rev. Ranson, que passaria a atu-ar também como um “evangelista geral”, com a tarefa de visitar, pregar e expandir para ou-tros lugares o trabalho missionário metodista. Foi assim que o metodismo chegou nas cida-des de São Paulo, SP, e Juiz de Fora, MG. O Rev. Ransom era também o redator da literatu-ra em português usada nas Escolas Dominicais metodistas. Ele é também o Superintendente do trabalho Missionário no Brasil.
1882
Em de setembro de 1882, os metodistas do Rio de Janeiro (liderados pelos Rev. Ransom e Rev. Kennedy) constroem o 1º templo metodis-ta no Brasil, a capela do Catete.
Em 22 de dezembro de 1882 o trabalho metodista no Brasil é dividido em duas áreas: o Distrito do Rio de Janeiro, sob a superinten-dência do Rev. Ransom e o Distrito de São Paulo, cujo Superintendente era o Rev. Koger, que também passa a ser o Superintendente Ge-ral do trabalho metodista no Brasil. O Rev. Ransom continua incumbido da expansão mis-sionária, particularmente em Juiz de Fora e na cidade de São Paulo.
1883
Em 4 de março de 1883, o Rev. Kennedy fica gravemente doente com a febre amarela e 11 dias depois viaja pra os EUA visando se res-tabelecer. Recuperado volta ao Brasil, casado com Jennie Wallace Kennedy, e trazendo con-sigo mais um missionário, o Rev. J. W. Tar-boux, com sua esposa e filhinho. O Rev. Tar-boux é designado para a congregação do Cate-te que funcionava no bairro de Santa Tereza, destinada aos estrangeiros.
Em outubro de 1883 o Rev. Ranson, o e-vangelista geral da Igreja, iniciou trabalho mis-sionário na cidade de São Paulo. No fim de ou-tubro Frances S. Koger, esposa do Rev. Koger, ficou muito doente e teve de ir aos EUA com seu filhinho para tratar-se. O Rev. Koger, para ser poupado, foi transferido para a cidade de São Paulo, Kennedy foi transferido para a Igre-ja de Piracicaba e para dar apoio ao Rev. Newman em Saltinho (Santa Bárbara). O Rev. Ransom ficou no Rio com o Rev. Tarboux.
O relatório estatístico da Missão no ano de 1883 registrava o seguinte: 5 missionários ho-mens, 4 missionárias casadas, 1 missionária solteira, 2 colportores (viajantes vendedores de Bíblias e livros), 130 membros e 21 candidatos a membro da Igreja Metodista do Brasil.
Em 1884
Em 10 de fevereiro de 1884 o Rev. Koger organiza a Igreja Metodista de São Paulo com 4 membros: 1 brasileiro, 1 inglês e um casal ita-liano; 3 homens e uma mulher. Organizou também uma Escola Dominical.
Em maio de 1884 chega a vez da Missão alcançar Juiz de Fora. Os primeiros passos fo-ram dados pelo Rev. Kennedy, mas o Rev. Ranson assume e muda-se para Juiz de Fora.
A chegada do metodismo...
Aos 11 de abril de 1884, com o restabele-cimento da esposa, o Rev. Koger volta a pasto-rear a Igreja de Piracicaba, onde permaneceu até sua morte e o Rev. Tarboux é quem assume a recém-criada Igreja de São Paulo. O Rev. Kennedy fica como pastor da igreja do Catete e da congregação metodista de língua inglesa em Santa Tereza. No final de 1884, Bernardo de Miranda e Ludgero de Miranda, dois ir-mãos membros da Igreja de São Paulo, come-çam no ministério pastoral. São os primeiros brasileiros no ministério pastoral. Bernardo Miranda desenvolve trabalho missionário a-brangendo Jundiaí, Penha e Mogi das Cruzes. Destacam-se também no cenário nacional dois outros obreiros da Igreja de São Paulo: os col-portores Samuel Elliot e João Bernini.
Em 2 de setembro de 1884 o Rev. Ransom, viúvo, casa-se novamente nos EUA. Tão logo retorna ao Rio de Janeiro dá especial atenção à redação e publicação dos periódicos da Escola Dominical, intitulados “A Escola Dominical” e “A nossa Gente Pequena”, ambos em portu-guês, utilizados em todas as Escolas Domini-cais metodistas no Brasil.
1885
Em janeiro de 1885 o Rev. Koger, Superin-tendente Geral da Missão no Brasil, promove em Piracicaba uma reunião de todos os mis-sionários metodistas no Brasil. A reunião ga-nhou o nome de Conferência Anual Missioná-ria e realizou-se nos dias 14 a 20 de janeiro. De-la participaram: Rev. Newman, Rev.. Koger, Rev. Kennedy e as missionárias educadoras Miss Watss e Miss Mary W. Bruce. Só o Rev. Ransom não compareceu.
“Entre outras coisas - descreve o Rev. Ken-nedy no seu livro Cincoenta Annos de Metho-dismo no Brasil - foram feitas as seguintes: Renderam-se graças a Deus pela conservação da vida e saúde de todos os novos obreiros desde a chegada dos novos reforços em maio de 1881; ouviram-se relatórios pormenorizados sobre todos os campos do trabalho, menos o de Minas Gerais, devido à ausência do seu pastor; fez-se um estudo minucioso dos métodos dos obreiros; tratou-se dos trabalhos escolares e li-terários, da tradução de certas obras importan-tes para o português, da obra de colportagem; de finanças e da distribuição de fundos; exten-são do trabalho em novos campos; deu-se mui-ta atenção à questão do reconhecimento pelo governo imperial, da nossa Igreja, como enti-dade jurídica, nomeando-se uma comissão permanente para tratar disso; da divisão do território entre as diversas igrejas evangélicas, desejosas de cooperar do melhor modo possí-vel, com as denominações cristãs, manifestan-do-lhes real simpatia e amor; externou-se a i-déia de que a Evangelização do Brasil, abaixo de Deus, dependeria, no fim das contas, mais de brasileiros convertidos, do que de missões sustentadas pela Igreja-Mãe; estudaram-se a questão da disciplina na igreja, especialmente com referência a observação do Dia do Senhor (Domingo) e a abstenção de bebidas, princi-palmente no fabrico e venda das mesmas...”
Ainda segundo o Rev. Kennedy, “no dia 20 de Janeiro de 1885, pela primeira vez na his-tória da nossa igreja brasileira, foram lidas as nomeações dos nossos pregadores e dali em diante não passou nenhum ano do calendário sem isso se fazer.
O Rev. Koger, Superintendente da Missão leu as seguintes nomeações:
Superintendente da Missão: J. W. Koger
Distrito do Catete: J.J. Ransom
Catete – Congregação de língua inglesa – a ser suprido
Catete – Congregação de língua brasileira – J.L. Kenndy e Samuel Elliot, ajudante
Circuito do Vale do Paraíba – J.J. Ransom
Distrito de São Paulo – J.W. Koger
Circuito e Estação de São Paulo – J.W. Tarboux e Bernardo de Miranda, ajudante
Circuito de Santa Bárbara – J.E. Newman
Circuito de Campinas – a ser suprido
Circuito de Piracicaba – J.W. Koger e um ajudante a ser suprido.”
Em 3 de março de 1885 começa a constru-ção do templo da Igreja de Piracicaba, o 2º templo metodista no Brasil, inaugurado no dia 1º de novembro do mesmo ano.
Em 5 de julho de 1885 organiza-se na Igre-ja do Catete a primeira Sociedade Missionária Metodista de Senhoras, hoje Sociedade de Mu-lheres Metodistas.
Bem, esta é uma síntese do metodismo no Brasil de 1832 até 1885. Brevemente continua-remos com a história do metodismo brasileiro até 1930, quando se deu a chamada “Autono-mia” da Igreja Metodista do Brasil em relação à igreja-mãe, a Igreja Metodista Episcopal do Sul dos Estados Unidos.
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