Na data de 19 de novembro é comemorado o dia das Sociedades Metodistas de Homens. A data foi estabelecida em 1938, portanto são 72 anos de SMH – Sociedades Metodistas de Homens. Apesar de mais de meio século de existência, tal grupo societário ainda não se encontra em todas as igrejas, em todos os distritos de todas as Regiões Eclesiásticas de nosso Brasil. Em alusão a data; quero fazer uma reflexão sobre a importância de tal grupo, e alguns passos que penso como fundamentais para a existência de uma Sociedade Metodista de Homens, realmente forte.
Começo esta reflexão com uma frase de João Wesley, o qual olhando os campos e, a necessidade de obreiros, exclamou: "Dai-me cem homens que nada temam senão o pecado, e que nada desejam senão a Deus, e eu abalarei o mundo."
Na supracitada petição de Wesley, encontramos algumas características que precisamos ter para que possamos construir uma Sociedade Metodista de Homens, realmente impactante. Obviamente, Wesley ao fazer tal pedido, fez sensibilizado pelo Espírito Santo que o levou a notar a situação que o cercava. Para tanto foi necessário, olhar o horizonte, enxergando para além de sua zona de conforto. A ousada frase de Wesley, nos desafia a olharmos para o mundo, assim como, Jesus nos desafia em João 4. 35: Não dizeis vós: Ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Ora, eu vos digo: levantai os vossos olhos, e vede os campos, que já estão brancos para a ceifa.
A Missão começa com um olhar. Deus olhou, e viu que, Adão não estava no lugar costumeiro, e então iniciou sua Missão de salvar a humanidade. Ao procurar pelo homem que, acusado pelo pecado cometido, da presença divina se escondera juntamente com sua mulher, o Criador perguntou: Onde estas? (Gn 3. 9). Depois de ter sido indagado, e responder que incitado pela mulher desobedecera a Deus, a humanidade, em Adão se apresentou em estado de pecado diante de Deus. E Deus viu a sua criação humana não mais em estado de graça, mas decaída. E mesmo estando ela decaída, Ele a amou, razões pelas quais enviou a Jesus para salvá-la. E o Filho preparou doze homens, ofereceu a sí mesmo como resgate pela humanidade perdida, ressuscitou, e antes de subir aos céus instituiu e sob o poder do Espírito Santo enviou a Igreja para dar seqüência a Missão do Pai. ( Lc 4. 18, 19; Jo 20.21; At 1. 8) Acredito que, uma Sociedade de Homens forte, é antes de tudo, um grupo de homens que, sob o influxo do Espírito, sedentos por almas, desejam participar por meio da Igreja, da Missão de Deus em seu propósito de salvar o mundo.
Mas, assim como Deus viu, penso que o primeiro requisito necessário para que tenhamos uma sociedade de homens, capaz de abalar o mundo, é: ver. E o ato de ver é fruto da ação do Espírito de Deus que nos abre os olhos para vermos realidades espírituais. (2 Reis 6. 17)
Tudo começa com o olhar, tudo penetra pelo olhar, alcançando nossos corações. O olhar de constatação se lança a partir de onde nós estamos, de nossa realidade, lugar comum, de nossa casa, bairro, igreja local, distrital, regional, até tornar-se Missão em esfera nacional, e por fim, global.
João Wesley viu em sua época uma realidade de morte, exclusão, opressão causada por forças espirituais, via estruturas humanas. Ele viu o povo. Ele viu uma religião mórbida, ritualística, indiferente ao povo que passava necessidades físicas e espirituais. Ele viu um sistema religioso fechado em si mesmo, em sua ortodoxia, que apesar de correta não produzia vida. Ele foi capaz de olhar para além dos limites de sua paróquia, e amando o mundo, extasiado por amor as almas, ele declarou: o mundo é minha paróquia! E para alcançar as vidas preciosas aos olhos de Deus, ele, clamou:
Dai-me cem homens...
A Missão é de Deus, mas não é feita por anjos. Ela está em curso desde o paraíso perdido, para resgatar pessoas, e na execução do ponto crucial dela, o Verbo de Deus se fez pessoa no ventre de uma virgem, conviveu com pessoas, ajuntou em torno dele pessoas, morreu pelas mãos de pessoas, oferecendo a si mesmo como sacrifício em favor de pessoas. Vencendo a morte, após ressuscitar, Instituiu a igreja e a enviou para resgatar pessoas, até o dia em que dos céus Ele vira, para levar com ele pessoas de todos os povos, tribos e nações. Para cumprir esta missão ele envia homens e mulheres, dizendo: “Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura” Mc. 16:15. Diante da grande omissão, que ocorre frente a grande comissão, sendo causa da perdição de milhares de almas que, por desconhecimento não invocam a Cristo, o apostolo Paulo nos questiona em Romanos 10:14 diz, "Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?"
Não, basta ver a realidade, é preciso que a sintamos, por meio de uma missão encarnada
Jesus sempre ia além do ver, ele enxergava a realidade que o cercava, e as pessoas envolvidas nela. O ato de ver fazia com que enxergasse as pessoas em suas necessidades e sentisse compaixão. Mateus no capitulo 14, versículo 14 de seu Evangelho, diz: “Ao descer ele viu uma grande multidão; foi tomado de compaixão por eles e curou seus doentes”.
Dificilmente ao lançarmos um olhar sobre a sociedade, não seremos tomado de compaixão pelos que sofrem. Verdade é que, nem sempre podemos fazer algo por todos, mas podemos começar a fazer a diferença a partir do local onde estamos. Ainda hoje são muitas as realidades de exclusões existentes ao nosso redor, muitas vezes, até mesmo em meio a nossas igrejas locais, há pessoas sofrendo, gemendo sob um fardo de dor, angustia e etc. Estas pessoas muitas vezes não recebem o cuidado devido do/a pastor/a, principalmente em comunidades grandes. Preocupado não só em ganhar, mas em consolidar e fortalecer na fé os que se entregavam a Cristo nas grandes pregações ao ar livre, Wesley formou os bands, ou as sociedades. Elas funcionavam como, micros comunidades dentro do macro comunidade, eram lugares onde cada pessoa podia ser mais bem acompanhada, cuidada e nutrida em seu crescimento e caminhada espiritual.
Podemos e devemos resgatar tal prática. Dentro da própria sociedade de homens, por meio do pastoreio mutuo possibilitando o exercício do sacerdócio universal do crente, colocando irmão para pastorear irmão, algo tipo: companheiros de julgo, dividindo em duplas, onde um ora pelo outro, visita o outro acompanhando o crescimento espiritual mutuo. Uma vez por mês se reúne todo o grupo societário para orações, reflexões e confraternização. Tiago já apontava para isto, ao aconselhar aos membros de sua comunidade, escrevendo-lhes: "Confessem suas faltas uns aos outros e orem uns pelos outros, a fim de que vocês possam ser curados. A oração fervorosa de um homem justo tem grande poder e resultados maravilhosos." Tiago 5. 16, 17.
Nada temer, senão o pecado...
A Igreja precisa de homens decididos, homens que enfrentem quaisquer situações, enfrentando até mesmo ao diabo, lhe resistindo e pondo-o para correr, mas que sejam homens capazes de fugirem do pecado. Fugirem do pecado, pois reconhecendo suas fragilidades, sabem seus limites. Deus não chama super-homens, tampouco semideuses para fazer a obra dEle. Ele chama homens comuns, assim como chamou aos profetas no Antigo Testamento, e aos apóstolos no Novo. A capacitação vem dEle, é ele quem nos fortalecerá, é no poder do Espírito Santo que participemos da Obra Missionária Divina, não por nossa capacidade ou força, mas pela força daquele que prometeu: E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século... “sem mim nada podeis fazer.” (Mat. 28: 18-20, João: 15,5c) É exatamente por ele estar conosco que faremos obras iguais, ou até mesmo maiores do que as que Ele fez. (Jo 14. 12)
...e que nada desejam senão a Deus, e...
Aquilo que anelamos é o que norteia nossas ações. Dedicação a obra, participação ativa e envolvimento missionário, penso que são as maiores provas que podemos dar, demonstrando que, desejamos a Deus, é honrarmos o Filho dEle. E tal honra é dada através de uma entrega total a Ele. E tal entrega vai se refletir no envolvimento na Missão de Deus em seu propósito de salvar o mundo. Paulo escrevendo ao seu jovem discípulo, Timóteo, declara: “Nenhum soldado em serviço se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra.” (2 Tm 2. 4) Como metodistas, evocamos as celebres palavras de João Wesley: • “Temos um negócio neste mundo: salvar almas [...] Vocês não tem nada a fazer, senão salvar almas. Portanto, gastem tempo e sejam gastos nessa obra. Devem ir sempre não apenas ao encontro dos que precisam de vocês, mas principalmente daqueles que mais necessitam de vocês." Deus conta conosco, com nosso tempo, com nossos carismas naturais e sobrenaturais por Ele nos dado. Ao estudarmos a Bíblia vamos ver que os chamados eram sempre homens que estavam no trabalho, cito o exemplo de Elizeu, o qual estava lavrando com doze juntas de boi. E de Matheus o qual estava na coletoria de impostos. (I Reis 19. 19 – Lc 5.27) Portanto, dizer que; não temos tempo, não serve de justificativa frente ao chamado de Deus.
...eu abalarei o mundo!
A razão final pela qual Wesley clamou por 100 homens, era para abalar o mundo por meio da proclamação do Evangelho. O Evangelho quando pregado se torna um força avassaladora que faz tremer os infernos e todas as estruturas do mal. Contudo, para produzir tal efeito, ele precisa ser anunciado, proclamado, e uma vez anunciado não há império que fique imune aos efeitos dele. “A respeito dos discípulos, homens simples, trabalhadores, com pouca formação, mas que haviam tido um encontro com Cristo, alguém declarou: Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui” (At 17.6b)
Transtornado o mundo... Mundo... Qual mundo os discípulos com a pregação do evangelho teriam transtornado? Penso eu que era o Império Romano, o qual não resistiu a 12 homens rudes, mas que no jeito de falar deixava claro aos ouvintes que de fato haviam estado com Jesus: Então eles, vendo a ousadia de Pedro e João, e informados de que eram homens sem letras e indoutos, maravilharam-se e reconheceram que eles haviam estado com Jesus. (At 4. 13).
Estado com Jesus... Ter estado com Jesus... Eis o requisito principal para que possamos ter uma sociedade de homens fortes, e conseguintemente uma Igreja Metodista, a nível local, distrital, regional e nacional forte. Não que eu queira demonstrar ter mais ou maior fé do que o patriarca do metodismo, mas creio que, não precisa nem ser 100, assim como Wesley pediu, penso que, se em cada comunidade se levantarem: 2, 3, 4, 5 homens que, “nada temam senão o pecado, e que nada desejam senão a Deus, dispostos a olharem a realidade do mundo a partir de onde estão, sentindo a necessidade das pessoas que cercam a comunidade e que precisam conhecer a Cristo, certamente serão levados ao ultimo passo que se iniciou com um olhar, o agir."
A ação vira através envolvimento na Missão local. Missão começa em casa, na igreja local, espalhando – se pelo bairro, pela cidade, pelo distrito, pela região e por fim por toda a Igreja nacional. Penso que: ver, sentir, temer ao pecado, mas se fortalecer em Deus, desejar a Deus e se disponibilizar para a obra dele, são alguns dos passos para termos uma Sociedade Metodista de Homens capaz de abalar o Brasil, o continente latino americano e até mesmo todo o mundo. E tal Sociedade começa na igreja local, quando cada homem, olhando a falta de obreiros, assim como Isaías se apresenta para a Missão dizendo: Eis me aqui!
Que nestes 72 anos SMH Sociedade Metodista de Homens, Deus esteja levantando varões valorosos para atearem o fogo do Espírito Santo na seara brasileira. Que novos homens venham a se apresentarem para a obra. E que os que já estão com as mãos no arado possam entender que, a razão de ser das Sociedades Metodistas é: "dar sabor a tudo quanto vos rodeia. É da natureza do divino sabor que existe em vós expandir-se em tudo quanto tocardes, difundir-se por todos os lados, atingindo a todos aqueles em cujo meio estiverdes. Esta é a grande razão pela qual a Providência de Deus vos misturou com os outros homens, de modo que as graças, quaisquer que sejam, que de Deus houverdes recebido, possam ser comunicadas através de vós aos demais homens." João Wesley
Pr. José do Carmo da Silva - O Zé do Egito
Igreja Metodista em Fátima do Sul - MS
Bíbliografia: Citações do livro "On Earth as it is in Heaven" por Stephen L Hill
Nenhum comentário:
Postar um comentário