"Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles."
(Mt 1.18-25)
Natal é recordação, e mesmo atualização da obra que o Filho de Deus ao nascer entre nós veio realizar. É também uma recordação permanente do papel fundamental da mulher e da criança na obra da Salvação.
Primeiro, Maria, uma mulher simples, ocupa um papel de destaque na história da Salvação, lugar antes reservado a profetas e reis, quase sempre homens.
Por outro lado, o relato deixa claro que ainda assim ela é vulnerável, pois sua gravidez é posta em suspeita, os homens tinham de legitimá-la. Se não fosse a intervenção do anjo, Maria teria permanecido rejeitada. Aqui fica claro que a Salvação começa por restabelecer a dignidade da maternidade.
A situação da gravidez de Maria segue sendo uma denúncia por não dispor de condições mínimas de segurança. O risco corrido por Maria de estar só e sem recursos segue sendo a situação de fragilidade e marginalidade que muitas mães vivem nas ruas de nossas cidades. Homens que não assumem a paternidade são mais frequente do que desejaríamos. Apenas ocasionalmente uma ou outra mulher consegue na justiça que um ou outro homem assuma sua responsabilidade.
Na verdade, o risco que Maria correu é o drama real de muitas mulheres. Com Maria o socorro de Deus veio nas expressões da mensagem do anjo de Deus. Onde estão hoje os anjos de Deus? Cabe à Igreja servir de mensageira de Deus às mulheres que solitárias dão à luz a seus filhos, algumas nas ruas de nossas cidades. Dessa forma é que entendemos Jesus como Salvador, aquele que nos envia para salvar o povo de seus pecados, ou seja, de suas misérias, injustiças, impiedades. Sim, resgatar da solidão da miséria é ajudar as pessoas a conhecerem Jesus e nele a Salvação.
Em segundo lugar, sobre uma criança, o menino Jesus, começa a se construir o sonho de Deus, aquele que como disseram os anjos aos pastores: "...eis aqui vos trago boa nova (Evangelho) de grande alegria, que o será para todo o povo." Jesus, o menino, é sinônimo de boa nova, de grande alegria. E assim também é o nascimento dos nossos filhos: é uma grande alegria acolher a chegada de uma criança, para isso nós preparamos: o ambiente, o melhor possível, o enxoval, roupas e outros utensílios, preparados em cada família quando está para nascer uma criança. A acolhida do Filho de Deus deveria ser festejada pelo povo de Israel, e recordada por nós. Deus ouviu o clamor de seu povo e lhe deus o Messias, ou, como disse Simeão, a Salvação de Deus, Redenção de Jerusalém. Mas não foi assim, o menino nascido de Deus, por sua serva Maria, foi quase rejeitado pelo pai. Além disso, foi ordenada sua morte ainda quando criança, pelo rei Herodes. E, finalmente, não havia lugar para ele, nem na estalagem. Assim, o nascimento de Jesus, além de trazer o sonho de Deus, traz denúncia ao descaso com as crianças.
Muitas das nossas crianças são mortas nas ruas das nossas cidades, fruto da violência que se instaurou ao nosso redor, mortes planejadas e ordenadas pelos novos Herodes. Até quando Senhor??? São nas ruas do Centro do Rio ou nas periferias e lugares, por todo lado vemos crianças a nos anunciar, recordar: Nasceu de novo Jesus. E do mesmo modo não há lugar para a Maria de Jesus dar à luz a sua criança. Sem lugar, sem nome, e algumas sem pai e sem mãe. Até quando Senhor???
Sim, não havia lugar para Jesus em Israel. Difícil ironia: o tão esperado não encontra lugar. Por quê? Porque o rei queria conservar seu poder seus acordos com Roma, porque a ordem social e econômica que ele organizara seria confundida.Não havia lugar para Jesus na própria religião judaica, pois os sacerdotes e escribas em sua teologia não tinham lugar para um Messias como ele. O padrão teológico da religião judaica era estranho para o padrão de Jesus: seu nascimento, suas companhias, seus discípulos, em tudo se diferenciava dos religiosos. Finalmente, não havia lugar para Jesus na vida das pessoas: os desafios pessoais apresentados por Jesus foram rejeitados por muitos; o exemplo do jovem rico, que se afasta, recusando dar o que tem aos pobres e segui a Jesus, ilustra os termos claros da boa nova: trata-se de compromisso exclusivo com Jesus, perdão e justiça aos que nEle creem, especialmente os pobres, pois, afinal, a maioria dos ricos já tem a sua consolação.
Assim. O Natal deve ser um momento de pensarmos nos anúncios que ele traz, e também as denúncias que ele sublinha. Quando estivermos fazendo nossas compras, pensemos nos verdadeiros sentidos no Natal, falemos ao derredor: Natal é mais do que estas vitrines, presentes. É verdade que já sabemos, mas não e verdade que anunciamos o que sabemos. Tampouco vamos permitir que nosso Natal ocorra somente entre quatro paredes; vamos tirar nossa festa de dentro de casa, de dentro do templo, e vamos colocá-la nas ruas, como fazem os comerciantes. Sim, sejamos criativos. Levemos o Natal para a praça, preparemos uma cantata, algo diferente. Vamos incomodar, no bom sentido, o povo; vamos chegar junto das pessoas nas ruas. Sim, preparemos a festa para todos, pois Jesus é a boa nova de alegria para todo o povo! ALELUIA!
Bispo Paulo Lockmann
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