segunda-feira, 13 de agosto de 2012

REDES WIRELESS: EXISTE ALGUM PERIGO PARA A SAÚDE?


Renato Sabbatini*


O grande crescimento das redes de comunicação de dados por tecnologia sem fio (wireless), como Wi-Fi, WiMax, OFDM e Bluetooth, tem causado alguma preocupação entre as autoridades de saúde em todo o mundo. Algumas perguntas são colocadas de imediato:
• Estaria realmente aumentando, no ambiente urbano, a intensidade média dos campos eletromagnéticos na faixa das radiofreqüências usadas em telecomunicação (900 MHz a 10 GHz)?
• Esses campos possuem potência suficiente para provocar algum tipo de dano biológico?
• A exposição contínua, a curta distância, às emissões de campos de radiofreqüência pode representar um risco à saúde? Qual?
• Existem situações especiais, como escolas e hospitais, em que não se recomenda colocar pontos de acesso sem fio, antenas onidirecionais ou direcionais, etc?
Caso essas respostas sejam todas positivas, corremos o risco de estar vivendo um experimento de larga escala, no qual centenas de milhões de pessoas estão expostas. Os resultados danosos poderiam ser catastróficos, principalmente em longo prazo.

Radiação não-ionizante

Felizmente, parece não haver motivos para preocupação, dizem os cientistas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Este órgão multilateral da ONU montou há alguns anos um grupo de especialistas para investigar os resultados da literatura científica e médica a respeito dos efeitos de campos eletromagnéticos não-ionizantes sobre a biologia e a saúde.
O tipo de radiação utilizada em radiocomunicação (incluindo o rádio e a televisão, que existem há muito tempo) é do tipo não-ionizante. O que significa isso? Ao contrário da radiatividade, dos raios gama, dos raios-x e de alguns tipos de raios ultravioleta, as microondas e ondas de rádio não possuem energia suficiente para quebrar ligações moleculares. Quando isso acontece, elétrons são arrancados pela energia da radiação incidente e formam-se íons, cujo acúmulo pode ser nocivo para as células e tecidos orgânicos, levando à morte celular e à mutação. Em casos de exposição longa e intensa aos raios ionizantes, pode surgir até mesmo o câncer, como aconteceu com os sobreviventes das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki e com os moradores próximos a Chernobyl, entre outros exemplos.
O único efeito plenamente demonstrado das radiações não-ionizantes (RNI) é o aquecimento da matéria, por rotação e agitação de moléculas bipolares. É este, aliás, o princípio por trás do forno de microondas. E o calor pode realmente causar danos biológicos consideráveis, se for de uma certa energia.

Baixa potência

Nos dispositivos usados para telecomunicação, em geral a potência utilizada é muito baixa. Por exemplo, uma antena de uma estação radiobase típica de telefonia celular irradia entre 20 W a 100 W. A antena do telefone celular GSM irradia menos do que 1 W. Um ponto de acesso Wi-Fi fica entre 30 mW e 200 mW. Ou seja, é muito pouco para provocar qualquer efeito térmico significativo. Um fator extremamente importante é que, à medida que uma pessoa se afasta de uma antena, a intensidade cai de maneira muito rápida. A alguns metros de uma antena de Wi-Fi, por exemplo, a intensidade é de apenas um milésimo da original. A 20 ou 30 metros, a radiação é tão pequena que somente instrumentos muito pequenos são capazes de detectá-la.
Além disso, quanto menor o alcance da antena, menor é a potência de irradiação utilizada. Por exemplo, pontos de acesso Wi-Fi domésticos são projetados para um raio de cerca de 60 a 70 metros. Um dispositivo Bluetooth alcança no máximo um par de metros de distância. Uma estação radiobase de telefonia celular alcança algumas centenas de metros a no máximo a uns 2 km. Um estudo francês, que monitorou 24 horas por dia, através de um sensor portátil, os campos de radiofreqüência a que estavam submetidos voluntários no seu cotidiano, detectou que as freqüências de 900 MHz a 6 GHz (usados na telefonia celular - GSM, CDMA, TDMA - e nas redes Wi-Fi, OFDM e WiMax) representam menos de 2% de toda a potência recebida ao longo do dia. As rádios FM e os canais de TV em UHF e VHF são as que mais contribuem, com cerca de 10% a 20%.
A maior surpresa (mas não tanto) é que cerca de 70% dos campos de radiofreqüência que recebemos são oriundos de fontes naturais, como o sol, os planetas, os corpos aquecidos de qualquer natureza, etc. Com isso, é absolutamente irrelevante a contribuição total de densidade de potência de radiofreqüência dos sistemas de comunicação sem fio.
A densidade de potência média também não parece estar aumentando. Ela é muito pequena, pois os sinais de rádio das múltiplas fontes e freqüências interferem uns com os outros, pois não são sincronizados.
No caso das antenas direcionais, como as parabólicas, embora elas tenham uma intensidade maior que os outros tipos de antenas, o dano biológico provável é também muito pequeno, pois geralmente elas são colocadas em pontos muito altos, fora do trânsito normal de pessoas. Os feixes emitidos abrangem um espaço bem restrito. Os únicos que devem se preocupar com elas são os trabalhadores que fazem montagens e manutenção em grande proximidade, mas a forma de evitar possíveis danos é simples: basta desligar o equipamento quando estas atividades forem realizadas.

Limites de segurança

Depois de 50 anos de pesquisas e mais de 20 mil trabalhos publicados, a conclusão do grupo da OMS é clara: não existem efeitos sistemáticos comprovados pela radiação não-ionizante (RNI) sobre a saúde humana, desde que os sistemas respeitem determinados limites máximos de exposição (em biologia, tudo em excesso pode fazer mal, até água; então, as exposições a agentes físicos e químicos devem ser limitadas).
Nesse sentido, nos anos 70 formou-se um comitê científico independente, chamado ICNIRP (International Committee for Non-Ionizing Radiation Protection, ou Comitê Internacional para a Proteção de Radiações Não-Ionizantes). Esse comitê determinou, em versões sucessivas, quais são os níveis de RNI do espectro eletromagnético, para cada faixa de freqüência, que provocam o aquecimento de 1 grau Celsius em um volume determinado de matéria. Em seguida, dividiram esse valor por 50 e propuseram os valores limites de segurança que não devem ser ultrapassados.
Atualmente, todos os equipamentos de radiofreqüência respeitam esses limites, dos handsets de telefonia celular às placas de Wi-Fi de laptops, das grandes antenas de rádio e TV às pequenas microcélulas da telefonia celular. O Brasil, através de normas legais da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), adotou os padrões ICNIRP, e os fabricantes e operadoras são obrigados a respeitá-los para homologar seus equipamentos e sistemas.

Conclusões

Os prefeitos e secretários de saúde e de meio ambiente das comunidades que estão querendo implementar redes sem fio para projetos de Cidade Digital podem ficar tranqüilos quanto a um potencial risco de saúde para a população. As densidades de potência das antenas onidirecionais e a direcionalidade das antenas parabólicas excluem a probabilidade de interações danosas com organismos vivos, mesmo em longo prazo.
Um estudo dinamarquês, que acompanhou mais de 400 mil usuários de telefones celulares por até 20 anos, demonstrou risco zero de câncer. E os estudos de revisão feitos por um grande número de órgãos nacionais e internacionais envolvidos com a proteção à radiação concluíram unanimemente que não existem motivos para temer riscos à saúde dessas radiações não-ionizantes, desde que sejam respeitados os limites de segurança.
* Renato Sabbatini é PhD em neurofisiologia e professor em tecnologias de informação e comunicação em saúde da Unicamp. Foi presidente da Federação Latino-Americana da Associação Internacional de Informática Médica e da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde. Atualmente é presidente do Instituto Edumed para Educação em Medicina e Saúde, que ajudou a fundar, e consultor independente. Foi eleito em 2007, pela revista InfoExame, um dos 50 Campeões em Inovação em Tecnologia. Formas de contato: sabbatini@edumed.org.br e (19) 3252-7762.
Copyright © 2007 Renato Marcos Endrizzi Sabbatini 

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