sábado, 15 de novembro de 2014

O TOQUE DO MESTRE

Por Myra Brooks Welch

Batido e riscado estava, e o leiloeiro
Não deu muito valor ao violino
Achou que não valia muito a pena
Mas mesmo assim o segurou sorrindo.
"Quanto me dão por ele?" gritou."
Quem começa a oferta?
Vamos ver: Um dólar, um dólar; quem dá mais?
Dois dólares, quem dá três?
"Três dólares, dou-lhe uma, dou-lhe duas..."
Mas do meio da multidão
Um senhor de cabelos grisalhos
Veio e pegou no arco então.
Tirou o pó do velho violino
As cordas soltas apertou
E tocou uma doce melodia
Que a todo mundo cativou.
A música parou, e o leiloeiro,
Agora falando de mansinho,
Disse: "Quanto dão pelo velho violino?"
E o segurou com muito carinho.
"Mil dólares, quem dá mais?
Dois, dois mil! E três, quem dá?
Três mil! Dou-lhe uma, dou-lhe duas...
Vendido!" disse ele pra fechar.
Mas leiloeiro, o que mudou o seu valor?
Foi algo que disseste?
Mas bem clara é a resposta
Foi o toque do Mestre.
Muita gente triste e perdida,
Surrada pelo pecado, em desatino
É menosprezada no leilão da vida,
Como o velho violino.
Mas quando vem o Mestre,
A multidão não consegue supor,
Que uma vida possa mudar tanto
Com um toque da mão do Senhor.
Ó Mestre! Estou desafinado
Toca-me Senhor com a Tua mão
Transforma-me, dá-me uma melodia
Para cantar a Ti no meu coração.

O Dr. Hubert Davidson visitou a famosa poetisa Myra Brooks Welch, que ficou conhecida principalmente por sua obra-prima "O Toque do Mestre". Quando ele estava de saída, Myra Welch passou a mão no braço da sua cadeira de rodas e disse: "Eu dou graças a Deus por esta cadeira!" Imagine, estar agradecida por ter que ficar entrevada numa cadeira de rodas! Mas ela só descobriu o seu talento depois que ficou paralítica! Em vez de ficar amargurada, ela decidiu deixar a sua deficiência melhorar o seu interior, e assim abriu-se-lhe a porta de uma vocação nova e maravilhosa.

O QUE O SENHOR PEDE DE NÓS

“Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti... (Miquéias 6.8)

Uma questão de grande interesse para os estudiosos é por que os primeiros cristãos abraçaram as Escrituras Hebraicas, o Antigo Testamento, não se limitando aos livros especificamente cristãos, o Novo Testamento. As razões para isso foram várias, sendo uma delas o reconhecimento de que os ensinos de Cristo e dos apóstolos estavam em perfeita consonância com os mais profundos valores religiosos e morais da fé judaica. Isso fica evidente de modo especial na área de espiritualidade, da qual os profetas têm alguns dos exemplos mais eloqüentes. A religiosidade veterotestamentária não só se evidencia por uma profunda devoção a Deus, mas por um componente interpessoal e ético que lhe confere grande riqueza espiritual e humana. 

A passagem de Miquéias 6.1-8 é uma das expressões mais significativas do que havia de melhor e mais nobre nessa espiritualidade, que ia muito além do legalismo e do formalismo religioso que pode ser sugerido por outras partes do Antigo Testamento. O versículo 8 é particularmente significativo porque sintetiza em poucas palavras aquilo que é dito ao longo de muitas páginas em outros trechos. É uma passagem-síntese que destila algumas das ênfases mais sublimes das Escrituras. Após abordar algumas das práticas e convicções mais caras à mentalidade religiosa judaica, o profeta mostra o que realmente importa aos olhos de Deus, e o faz na forma de três elementos essenciais. 

Que pratiques a justiça
O conceito de justiça é um dos temas-chave de toda a Bíblia. Significa fazer o que é certo, e mais especificamente ter relacionamentos corretos, com Deus e com os seres humanos. Praticar a justiça significa honrar a Deus e observar os seus preceitos, mas também inclui respeitar e defender a vida, a integridade e os direitos dos semelhantes, quaisquer que estes sejam. 

Que ames a misericórdia
Se a primeira exortação tem como alvo Deus e os seres humanos, esta segunda volta-se exclusivamente às pessoas. A implicação é que aquilo que fazemos aos que nos cercam é importante para Deus e tem profundas conseqüências para a vida espiritual. Não existe na Bíblia uma fé divorciada dos deveres de solidariedade, compaixão e simpatia para com o próximo. 

Que andes humildemente com o teu Deus
Assim como o primeiro preceito se volta para Deus e o ser humano, e o segundo especificamente para o próximo, o terceiro se concentra de modo especial em Deus. Essa última exortação ensina que a principal atitude a termos diante do Ser Supremo é a humildade, o reconhecimento das nossas próprias limitações, fragilidade e mortalidade, que contrastam com a grandeza majestosa do Excelso. 

Que conclusões podemos tirar acerca dessa rica espiritualidade ensinada pelo profeta Miquéias e secundada por muitas outras passagens bíblicas? 

  1. É uma espiritualidade pessoal, como fica evidenciado pelo vocativo “ó homem” e pelo uso da segunda pessoa do singular. Aqui, cada ser humano é conclamado a abraçar os melhores valores e comportamentos para a sua vida, espontaneamente, atraído pela beleza daquilo que é bom, daquilo que Deus requer.
  2. É uma espiritualidade relacional, ou seja, embora pessoal e individual, não é individualista. Volta-se para o outro, seja ele o Supremo Outro, Deus, ou o nosso próximo. É uma religiosidade que se manifesta e se enriquece no relacionamento caloroso e altruísta com outras pessoas.
  3. É uma espiritualidade ética. Religião é mais que moralidade, mas se não incluir um elemento ético, não pode ser religião verdadeira. A espiritualidade bíblica não é meramente mística ou contemplativa, mas engajada, concreta; não é relativista, mas tem noções claras de certo e errado, acredita em valores absolutos.
  4. Finalmente, é uma espiritualidade teocêntrica. Deus é tanto o seu fundamento, o seu ponto de partida, quanto o seu alvo mais elevado. Dele vem a motivação, a sabedoria e as forças para os melhores atos que podemos praticar. Ele é o objeto supremo da nossa devoção. A ele temos de prestar contas das nossas ações.